terça-feira, 14 de novembro de 2017

O ‘CEARÁ MOLEQUE’ COMO TRADIÇÃO INVENTADA EM O CAJUEIRO DO FAGUNDES, DE ARARIPE JÚNIOR


Por Charles Ribeiro Pinheiro, 
Orientação: Odalice de Castro Silva 

Resumo da comunicação apresentada no X Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação, durante os Encontros Universitários da UFC, 2017. 


O crítico Araripe Júnior (1848-1911), com o intuito de explorar um episódio da história do Ceará, publica, no Jornal do comércio, um folhetim com o título Um motim na aldeia, que posteriormente, em livro, foi publicado em 1929, com o título O cajueiro do Fagundes. O romance ocorre no final do século XVIII, na Vila do Forte (hoje Fortaleza), durante o período colonial, e narra o conflito entre o açougueiro Bartolomeu Fagundes e o Capitão-mor Feo e Torres, devido ao decreto de corte de um cajueiro. De acordo com o narrador, Fagundes é o autêntico representante do “Ceará moleque”. Araripe Júnior relata que o enredo foi extraído de uma monografia do historiador Barão de Studart sobre o capitão-mor Feo e Torres. O nosso objetivo é analisar como o personagem Bartolomeu Fagundes pode ser considerado uma representação de uma molecagem cearense como uma tradição inventada. Sobre a ideia da ‘tradição inventada’, recorremos a Eric Hobsbawn, em A invenção das tradições (1997), além de Alfredo Bosi, em Dialética da colonização (1992). Sobre Araripe Júnior, consultamos Braga Montenegro (1948), Pedro Paulo Montenegro (1974), Luiz Roberto Velloso Cairo (1996) e Roberto Ventura (1991). Após o nosso estudo, observamos que o narrador do romance utiliza o termo ‘Ceará moleque’ em um enredo que se passa do final no século XVIII, contudo o termo propriamente dito só apareceria na imprensa cearense na década de 1880. A expressão é usada pelo narrador como uma tentativa de considerar a ‘molecagem’ como traço inato e distintivo do nosso povo, revelando o seu afã de construir uma tradição ‘inventada’ da irreverência dos cearenses. A ideia de ‘molecagem’ é considerada como uma interpretação da influência do meio e do clima no homem cearense, perspectiva que vai ao encontro do projeto de crítica literária de Araripe Júnior.

Palavras-chave: Ceará Moleque. Tradição inventada. Historiografia Literária. Romance.

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