sábado, 14 de agosto de 2010

Os super-heróis dos quadrinhos como atualização dos heróis míticos.

Evento: V Encontro de Alunos e Ex-Alunos do Curso de Mitologia.

Local: Centro de Humanidades – UFC.

Resumo: O nosso propósito foi de demonstrar como os super-heróis das histórias em quadrinhos são versões atualizadas dos heróis mitológicos. Para tal fim, realizamos um estudo comparativo entre o herói da épica grega e os super-heróis dos quadrinhos americanos do século XX. Enfocamos os personagens da Ilíada, de Homero em comparação às figuras do Super-homem e do Homem Aranha. Como suporte teórico, utilizamos as seguintes obras: O poder do Mito e O herói de mil faces, do mitólogo norte-americano Joseph Campbell; Os símbolos da transformação, do psicólogo Carl Jung; Shazam, do pesquisador de histórias em quadrinhos Álvaro de Moya e o ensaio “O mito do Superman” do livro Apocalípticos e Integrados, de Umberto Eco. Com esta pesquisa, verificamos que os super-heróis não são meros produtos da cultura de massa. Eles são símbolos que remetem à jornada arquetípica do herói. São imagens poderosas que fazem o espírito humano seguir adiante.


TÓPICOS E IDEIAS

Objetivo: O intuito deste trabalho foi de demonstrar como os super-heróis das histórias em quadrinhos são versões atualizadas dos heróis mitológicos. 

Visão do senso comum em relação aos super-heróis:
*histórias infantis;
*representação de sujeitos com habilidades sobre-humanas e super-poderes; personagens que lutam pela justiça e fazem o bem;
*sujeitos mascarados e com uniformes apertados e coloridos.


CONCEITO DE HERÓI: Semideus, filho ou descendente dos deuses. Designa, o protagonista principal da epopeia, prosa de ficção e teatro. Na antiguidade clássica, o apelativo “herói” era destinado a todo ser fora do comum, capaz de obrar façanhas sobre-humanas, que o aproximam dos deuses (MOISÉS, Massaud. In: Dicionário de termos literários. p. 219).

Como herdeiros da cultura ocidental, a nossa visão de “herói” vem da Grécia antiga.

Fonte primordial da aventura do herói ocidental = MITO.

Modelo do Herói Grego: Herácles.

O poeta Homero foi o responsável por compilar e dar um acabamento artístico a um rico material folclórico preexistente, transformando as narrativas míticas gregas em marcos da Literatura ocidental.

Contexto histórico de Homero, séc. VIII a.C.: passagem da sociedade arcaica para a sociedade aristocrática. Classe dominante: Aristocratas. Eles a grande parte do público dos poemas épicos declamados pelo aedos e se identificavam com os heróis das narrativas como se esses fossem seus antepassados.

Funções do Herói no mito grego:

*Eles serviam de modelos de excelência (areté).

*Eram representantes de cada povo.

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Outro modelo de Herói Grego: Aquiles.
Brad Pitt como Aquiles, filme Troia, 2005.

Atributos de Aquiles: valentia, beleza, maior guerreiro aqueu, conhecimento em música, perito em medicina e invulnerável.

Filiação divina – gerado por Peleu e Tétis.

Epítetos: “Divino Aquiles”, “Aquiles de pés ligeiros”.


MITO
Na antiguidade o universo tinha uma forma e um centro.
O homem grego estava conciliado com o sagrado.
O mundo era a sua casa.

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No contexto das representações artísticas e mitológicas gregas, o Mundo era:

*Fisicamente - desconhecido. 

*Espiritualmente - conhecido.

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Narrativa mítica do herói = Ritual de iniciação.

Estética = Sagrado

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Surgimento do herói moderno: romance Dom Quixote (1605), por Miguel de Cervantes.
Dom Quixote e Sancho Pança, lustração por Gustave Doré.

Depois do período antigo, com o advento da filosofia, percebemos que a História humana foi um afastamento do sagrado. O projeto da sociedade ocidental foi o sinônimo de antropocentrismo e racionalismo. 

Na sociedade burguesa, pós revolução industrial 

Estética ≠ Sagrado

No último quartel do século XIX, com o desenvolvimento da indústria da imprensa, as ilustrações e os personagens em quadrinhos surgiram como atrativo para alavancar as vendas.
     Yellow Kid, 1895.

As Histórias em quadrinhos, assim como o folhetim, nasceram na imprensa. 

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A origem do super-herói está na literatura de ficção científica do final do século XIX. 

Ciência = Fantasia



Nas três primeiras décadas do século XX, os artistas e criadores de histórias em quadrinhos se aperfeiçoaram, além de histórias cômicas, também desenvolveram narrativas de heróis.


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Modelo de Super-herói: Superman
Os quadrinistas Jerry Siegel e Joe Shuster, primeiramente, desenvolveram um herói com poderes telepáticos que pretendia dominar o mundo. Ele apareceu em uma curta história, "The Reign of the Super-Man" (O Reino do Super-homem), no períodico Science Fiction 3, um fanzine de ficção científica, criada por Siegel em 1933. 
Em 1934, a dupla remodelou a personagem. Ele ficou mais próximo do herói, na perspectiva clássica, inspirado por personagens como Sansão e Hércules.

A primeira aparição do Superman foi em Action Comics 1, em 1938.
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Algumas opiniões sobre o sucesso do super-homem: exemplo de superação, idealização do indivíduo e escapismo.
Possíveis críticas, segundo Umberto Eco: escoteiro ingênuo, maniqueísmo e ausência de questões sociais.

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Na década de 1960, o Super-herói se humaniza e fica com a idade dos seus fãs, principalmente, devido ao advento dos super-heróis da Marvel Comics.
O super-herói mais popular desta época é o Homem-Aranha.
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Origem dos poderes: 

Heróis gregos = Deuses. 
Super-heróis = Ciência.

A personagem das histórias em quadrinhos nasce no âmbito da civilização do romance. Antes, na narrativa antiga, narrava-se o já acontecido. O Mito era conhecido por todos.

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Nas histórias em quadrinhos o Mundo é:

Fisicamente - conhecido.
Espiritualmente - desconhecido.

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A grande característica dos quadrinhos dos super-heróis americanos, assim como o folhetim e modernamente com a novela televisiva, é a imprevisibilidade do que acontecerá. A aventura do super-herói ocorre enquanto se narra.
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Ao mesmo tempo em que o super-herói encarna uma imagem, um arquétipo, ele, por fazer parte de uma indústria cultural, é comercializado no âmbito de uma produção “romanesca” para um público ávido por novidades.

A personagem do Mito encarna uma lei, uma exigência universal, e deve, numa certa medida, ser, portanto, previsível, não há espaço para surpresas; a personagem do quadrinhos, assim como o do romance, pelo contrário, quer ser gente como todos nós, e o que lhe poderá acontecer é tão imprevisível quanto o que nos poderia acontecer.

A partir da década de 80, a personagem dos quadrinhos torna-se mais problemática e o questionamento da figura do super-herói foi e é um dos seus principais temas.




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Joseph Campbell – O herói de mil faces (1949)
“Sempre foi função primordial da mitologia e dos rituais fornecer símbolos que levam o espírito humano adiante.”


Conclusão: A figura do super-herói dos quadrinhos é uma estrutura básica, fundamental, na formação e no desenvolvimento da personalidade de todos nós. Jornada do Super-herói como exemplo do processo de individuação.