sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A construção do ethos polêmico de Rodolfo Teófilo nos textos de crítica do jornal O Pão.


Rodolfo Teófilo (1853-1932), ao publicar o seu primeiro romance “A fome” (1890), obteve críticas desfavoráveis, sendo a que mais lhe desagradou foi a acusação de ser um mau escritor e de falsear a verdade, num texto estampado na “Revista Moderna” (1891). Em 1895, Teófilo descobre que o autor da crítica é Adolfo Caminha (1967-1897). Através dos artigos “A normalista” e “Cartas literárias”, publicadas no jornal “O pão” (1895), ele defende seu romance e desqualifica não apenas a obra literária, mas a pessoa de Caminha. Observamos que esse jornal serviu de “cenário” (Maingueneau, 2001) para as interações polêmicas entre os dois escritores, tanto para conquistar a opinião pública, quanto para superar o adversário. Amossy (2005) afirma que todo ato de tomar a palavra implica a construção de uma imagem de si, ou seja, o discurso é um lugar onde se engendra o ethos do orador, que não está dissociada de seu logos. Portanto, essa pesquisa tem o intuito de analisar a construção de um ethos polêmico de Rodolfo Teófilo por meio dos textos publicados no jornal “O pão”. O estudo do caráter discursivo da polêmica apoia-se em Ruth Amossy, “Ethos, cenografia e incorporação” (2005), de Dominique Maingueneau, “Gênese dos discursos” (2005) e “O contexto da obra literária” (2001) e de Marcelo Dascal, o artigo “Types of Polemics and Types of Polemical Moves” (1998). Após o estudo, observamos que Teófilo, como um sujeito enunciador, não escreveu seus textos em “solo institucional neutro e estável” (Maingueneau, 2001). Ao adotar um ethos polêmico, constituiu uma escrita provocativa para legitimar o seu conhecimento científico e seu engajamento intelectual. Constatamos que a polêmica entre os dois escritores não revelou apenas antipatias pessoais, ela é um importante meio para estudar o contexto literário cultural da época, para entender como se configurava a crítica nos jornais e os embates para se autolegitimar, na tentativa de inserção no cânone literário.
Palavras-chave: Rodolfo Teófilo. Polêmica. Ethos. Crítica. O pão.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A cidade no papel: as representações literárias de Fortaleza como proposta para eventos acadêmicos




A Palestra faz parte da programação do X Encontro de Docência no Ensino Superior, dos Encontros Universitários da UFC - 2018
Hoje, às 16h no CENTRO DE CIÊNCIA, Sala 41, Bloco 950, 1 andar - Campus do Pici

 Construído a partir da disciplina de Estágio de docência em literatura (código HGP8333), em 2015, o projeto de extensão “O entre-lugar na Literatura cearense” surgiu com o propósito de investigar a formação da literatura produzida e lida no Ceará. Iniciamos o projeto com o curso “O lugar do autor cearense na historiografia literária brasileira”, na Biblioteca de Ciências Humanas do Campus do Benfica, entre 2015 a 2016. Com a demanda do curso, em paralelo e integrado à pesquisa da tese, desenvolvi e executei duas atividades acadêmicas, com o auxílio de colegas de pós-graduação, acerca das representações artísticas da cidade de Fortaleza.  Em 2016, tivemos uma proposta de oficina aprovada e promovida durante a “X Semana de Humanidades da UFC”, intitulada “A Padaria Espiritual e a modernidade em Fortaleza, que tratou das representações da cidade no periódico “O pão” (1892-1896). Em 2017, organizei um Grupo de trabalho que fez parte da programação do “II Simpósio de Literatura Cearense”, do “XIV Encontro Interdisciplinar de Estudos Literários da UFC, com o título o “A Cidade no Papel: A cartografia literária da cidade de Fortaleza”. Este trabalho pretende relatar os percursos e dificuldades de organizar e executar ações acadêmicas, com o propósito de auxiliar na formação de pesquisadores na área de literatura cearense. Para o embasamento teórico, tivemos a contribuição de Silviano Santiago (1978), Sânzio de Azevedo (1976;1982), Antônio Cândido (1959), Tânia Carvalhal (2003), Dominique Maingueneau (2001), Pierre Bourdieu (1996), Charles Baudelaire (1869) e Walter Benjamin (1989). Compreendemos que, dessas duas ações distintas - uma oficina e um grupo de trabalho – ambos frutos de pesquisa, a mais laboriosa foi o GT, porque envolveu leitura, avaliação de resumos, divulgação, e, durante a sessão de comunicação, mediação e discussão com os pesquisadores. Ressalta-se a atividade docente como complexa e que não transmite um mero saber, porque deve nos ajudar a compreender a nossa condição humana e nos auxiliar a viver (Morin, 1999).



Palavras-chave: Literatura cearense. Historiografia literária. Entre-lugar. Docência superior. Eventos acadêmicos.


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Edgar Morin - Arauto de um novo renascimento, por Odalice de Castro Silva (2010)

Arauto de um novo renascimento
Ler Edgar Morin e ensinar a partir de suas propostas metodológicas implica na revisão de posturas antigas e na abertura para o desenraizamento e o novo enraizamento do saber

“Sob a história, a lembrança e o esquecimento. Sob a lembrança e o esquecimento, a vida.” Paul Ricoeur

       Combater a visão segundo a qual as pessoas, as coisas, a natureza, o mundo e o si-mesmo podem ser apreendidos como mônadas, defender a interrelação, a abertura e a imbricação como princípios são atitudes básicas para uma entrada ao método dos sete saberes como fundamentos ao pensamento complexo.
      Para “escancarar o santuário” do Conhecimento, alguns pensadores, ao longo da história da inteligência humana, têm-se insurgido contra a compartimentação no entendimento e defendido a natureza plurifacetada, mas não auto-excludente das partes e ângulos do que aprendemos a considerar como o todo.
      Ao tomar para si um ideário, a partir do qual o ensino e a aprendizagem deveriam abandonar a disciplinarização, em proveito da religação, Edgar Morin promove, juntamente com outros pensadores de mesma afinidade, uma proposta revolucionária. Através da leitura dos saberes, a busca de um caminho forjado pelo próprio conflito de antigas práticas, agora submetidas a outros motivos e objetivos. A religação dos saberes abraça as cegueiras do conhecimento, o conhecimento pertinente, a condição humana, a identidade terrena, as incertezas, a incompreensão e a ética do gênero humano.
      Os princípios não são passos ordenados em linha reta; os princípios desenham uma forma inusitada, os cruzamentos em horizontal e em vertical, cujos pontos de toque criam, por sua vez, nervuras para sugerirem outros encruzamentos, até que um grande prisma, no formato de um diamante parece surgir diante do leitor, mesmo sem maiores pretensões pedagógicas, reorganizará o seu modo de apreender os diferentes ângulos das realidades que ajuda a criar e que, por outro lado, são construídas por outros, num relacionamento universalizante.
      Ler Edgar Morin e ensinar a partir de suas propostas metodológicas implica na revisão de posturas antigas e na necessária abertura para uma medida: um desenraizamento e novo enraizamento do saber, tomando como ponto de partida figuras como a do prisma, do diamante, do entrecruzamento de linhas em profundidade e em superfície, para alcançar o desenho hologramático do saber, em mutação constante.
      Desde "O homem e a morte" (1951), após as experiências de sua vida em contingências extremas na Segunda Guerra, inclusive como oficial do exército alemão, para alcançar o paradoxo “Beethoven/ Hitler”, ou seja, para entender como foi possível, dentro da mesma civilização e cultura, o princípio da exclusão: o sublime da música e a crueldade programada, ou genocídio sistêmico; com Autocritique (1959), o livro necessário com as reflexões para que as descobertas de suas contingências pessoais pudessem lhe aparecer como aquelas que dariam rumo ao seu destino.
      De sua própria vida, das contradições de dentro de si, das contradições que desenham o rosto do outro e o contorno das relações humanas, a construção do Método, uma das mais importantes elaborações mentais do século XX e contribuição decisiva para a sustentação do conceito de complexidade, não apenas para a Epistemologia, mas para uma apreensão da vida e dos relacionamentos humanos no nosso dia-a-dia, tão prosaico, tão repetitivo, tão igual ao de todo mundo.
      Para ler a obra de Edgar Morin com mais proximidade com as vicissitudes e conquistas, mais perto de sua humanidade conquistada nas perdas e ganhos, deu-nos em "Meu Caminho" (2010), as respostas simples, diretas, corajosas e reveladoras de sua trajetória, desde as origens até a senectude que ele contempla e vive como viveu outras etapas da vida.
      O princípio da complexidade age como um ácido e como um bálsamo: o ácido ajuda a derreter as escamas que velam o olhar para a vida e o mundo; um bálsamo cheio de esperança e fé na regeneração da vida. As origens das promessas messiânicas pulsam de cada palavra, de cada frase, em cada livro, em cada entrevista. E ele ainda se afirma como alguém que sente falta de ter fé…
      **A Conferência Internacional sobre os Sete Saberes necessários à Educação do Presente, a acontecer de 21 a 24 de setembro de 2010, comprova a lucidez de inteligência de quantos tomaram a si a realização de um evento que marcará os novos rumos metodológicos para a vida de cada um de seus participantes.
“Manter sempre alerta a razão na paixão e sempre presente a paixão na razão.”

Odalice de Castro Silva é professora titular de Teoria literária e Literatura Comparada do Curso de Letras da UFC.

Fonte: Jornal O Povo, O POVO Online, Fortaleza, Ceará. Publicado em 18/09/2010

**Texto escrito para o Jornal O POVO, em virtude da Conferência Internacional sobre os Sete Saberes necessários à Educação do Presente, realizada em 2010, em Fortaleza.