Rodolfo Teófilo (1853-1932), ao publicar o seu primeiro romance “A fome” (1890), obteve críticas desfavoráveis, sendo a que mais lhe desagradou foi a acusação de ser um mau escritor e de falsear a verdade, num texto estampado na “Revista Moderna” (1891). Em 1895, Teófilo descobre que o autor da crítica é Adolfo Caminha (1967-1897). Através dos artigos “A normalista” e “Cartas literárias”, publicadas no jornal “O pão” (1895), ele defende seu romance e desqualifica não apenas a obra literária, mas a pessoa de Caminha. Observamos que esse jornal serviu de “cenário” (Maingueneau, 2001) para as interações polêmicas entre os dois escritores, tanto para conquistar a opinião pública, quanto para superar o adversário. Amossy (2005) afirma que todo ato de tomar a palavra implica a construção de uma imagem de si, ou seja, o discurso é um lugar onde se engendra o ethos do orador, que não está dissociada de seu logos. Portanto, essa pesquisa tem o intuito de analisar a construção de um ethos polêmico de Rodolfo Teófilo por meio dos textos publicados no jornal “O pão”. O estudo do caráter discursivo da polêmica apoia-se em Ruth Amossy, “Ethos, cenografia e incorporação” (2005), de Dominique Maingueneau, “Gênese dos discursos” (2005) e “O contexto da obra literária” (2001) e de Marcelo Dascal, o artigo “Types of Polemics and Types of Polemical Moves” (1998). Após o estudo, observamos que Teófilo, como um sujeito enunciador, não escreveu seus textos em “solo institucional neutro e estável” (Maingueneau, 2001). Ao adotar um ethos polêmico, constituiu uma escrita provocativa para legitimar o seu conhecimento científico e seu engajamento intelectual. Constatamos que a polêmica entre os dois escritores não revelou apenas antipatias pessoais, ela é um importante meio para estudar o contexto literário cultural da época, para entender como se configurava a crítica nos jornais e os embates para se autolegitimar, na tentativa de inserção no cânone literário.
Palavras-chave: Rodolfo Teófilo. Polêmica. Ethos. Crítica. O pão.
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