terça-feira, 14 de novembro de 2017

OS DESAFIOS DA PRÁTICA DOCENTE: O ENTRE-LUGAR NO ENSINO DA LITERATURA CEARENSE

Por Charles Ribeiro Pinheiro, 
Orientação: Odalice de Castro Silva 

Resumo da comunicação apresentada no IX Encontro de Docência no Ensino Superior, durante os Encontros Universitários da UFC, 2017. 

Como requisito para a obtenção do diploma de doutoramento em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará, cursamos a disciplina de Estágio de docência em literatura (código HGP8333), durante o ano de 2015. Mais do que substituir o professor na sala de aula, nos propomos a refletir sobre o estudo e o ensino da literatura cearense por meio de um projeto de docência. Após seis meses de pesquisa, desenvolvemos um projeto de âmbito historiográfico e comparatista intitulado o “Entre-lugar na literatura cearense”. A ação que serviu como nosso estágio de docência superior foi o curso “O lugar do autor cearense na historiografia literária brasileira”, ministrado entre 2015 e 2016, a partir do escopo do projeto. O referido curso visou à divulgação e ao auxílio na formação de pesquisadores na área de literatura cearense. O nosso propósito é realizar um relato das dificuldades em trabalhar com o ensino da literatura produzida no Ceará, não apenas no âmbito acadêmico, mas para o público em geral. Encontramos inúmeras barreiras para o progresso de nossa prática docente que está ligada às dificuldades de leitura e à circulação das obras de autores cearenses no nosso estado. Para encarar tal desafio, enfatizamos a exigência de um ‘historicismo renovado’ (Bosi) e de uma prática pedagógica complexa (Edgar Morin). Optamos por uma visão plural e crítica, por meio da categoria fronteiriça ‘entre-lugar’, discutida por Silviano Santiago (Uma literatura nos trópicos, 1978) e Homi Bhabha (O local da cultura, 1998), para a compreensão dos diálogos e dos conflitos entre as ideias de literatura regional e nacional, desconstruindo a ideia de ‘centro’ como espaço único de difusão cultural. Para o embasamento historiográfico da literatura cearense e do comparatismo literário, utilizamos: Dolor Barreira (1948), Sânzio de Azevedo (1976), Artur Eduardo Benevides (1976), Antônio Cândido (1959), Tânia Carvalhal (2003) e Leyla Perrone Moises, (1998). 

Palavras-chave: Literatura cearense. Historiografia literária. Entre-lugar. Docência superior. 

O ‘CEARÁ MOLEQUE’ COMO TRADIÇÃO INVENTADA EM O CAJUEIRO DO FAGUNDES, DE ARARIPE JÚNIOR


Por Charles Ribeiro Pinheiro, 
Orientação: Odalice de Castro Silva 

Resumo da comunicação apresentada no X Encontro de Pesquisa e Pós-Graduação, durante os Encontros Universitários da UFC, 2017. 


O crítico Araripe Júnior (1848-1911), com o intuito de explorar um episódio da história do Ceará, publica, no Jornal do comércio, um folhetim com o título Um motim na aldeia, que posteriormente, em livro, foi publicado em 1929, com o título O cajueiro do Fagundes. O romance ocorre no final do século XVIII, na Vila do Forte (hoje Fortaleza), durante o período colonial, e narra o conflito entre o açougueiro Bartolomeu Fagundes e o Capitão-mor Feo e Torres, devido ao decreto de corte de um cajueiro. De acordo com o narrador, Fagundes é o autêntico representante do “Ceará moleque”. Araripe Júnior relata que o enredo foi extraído de uma monografia do historiador Barão de Studart sobre o capitão-mor Feo e Torres. O nosso objetivo é analisar como o personagem Bartolomeu Fagundes pode ser considerado uma representação de uma molecagem cearense como uma tradição inventada. Sobre a ideia da ‘tradição inventada’, recorremos a Eric Hobsbawn, em A invenção das tradições (1997), além de Alfredo Bosi, em Dialética da colonização (1992). Sobre Araripe Júnior, consultamos Braga Montenegro (1948), Pedro Paulo Montenegro (1974), Luiz Roberto Velloso Cairo (1996) e Roberto Ventura (1991). Após o nosso estudo, observamos que o narrador do romance utiliza o termo ‘Ceará moleque’ em um enredo que se passa do final no século XVIII, contudo o termo propriamente dito só apareceria na imprensa cearense na década de 1880. A expressão é usada pelo narrador como uma tentativa de considerar a ‘molecagem’ como traço inato e distintivo do nosso povo, revelando o seu afã de construir uma tradição ‘inventada’ da irreverência dos cearenses. A ideia de ‘molecagem’ é considerada como uma interpretação da influência do meio e do clima no homem cearense, perspectiva que vai ao encontro do projeto de crítica literária de Araripe Júnior.

Palavras-chave: Ceará Moleque. Tradição inventada. Historiografia Literária. Romance.