Por
Lídia Barroso Gomes
Após quatro da publicação do seu livro
de estreia, Pluralia Tantum (1973),
Gilmar de Carvalho lançou a primeira edição de Parabélum, obra considerada pelo próprio escritor como umas das
mais importantes de sua trajetória na escrita ficcional. Como enredo do
romance, encontramos a história de um herói ou libertador que é anunciado ora
através de profecias do Antigo Testamento, ora com passagens dos Evangelhos do
Novo Testamento. O herói de Parabélum
também é uma tessitura das histórias da tradição popular e de outros
personagens históricos como Cristo, Lampião e Che Guevara. Identifica-se ainda com
J. Matias Fernandes, “dono talvez, do primeiro bordel homossexual de Fortaleza
que ficava em Parangaba” (In: “Vida
e arte”. O Povo. 06 de setembro de
1997. p. 5 B). Para Gilmar de Carvalho, a estrutura do livro pode
ser entendida em três partes: a) releitura do Evangelho; b) recriação da
linguagem de cordel; c) uma adoção de referências da América Latina (idem, ibidem). Parabélum também foi marcado pelo cinema de Godard, de Glauber
Rocha e pelo Tropicalismo.
O livro foi escrito nos finais de
semanas, entre 1975 a 1977. Antes de ser publicado, Parabélum foi lido por Joan Dassin, uma brasilianista que passava
por Fortaleza, que leu e sugeriu alguns cortes no texto. A primeira capa do
livro foi uma criação de José Capelo, o Pepe.
A escritura e a publicação de Parabélum se deram num momento em que a
História do Brasil foi marcada por uma série de crises política, econômica,
ideológica e cultural. Como é sabido, na década de setenta, o país ainda estava
sob o regime da ditadura militar instaurada desde o golpe de 1964. Segundo
Gilmar de Carvalho, o primeiro nome do livro, antes da primeira edição, foi Intentona: um projeto de romance pop porque
“trazia o conceito que reforçava a experimentação de Parabélum. A palavra intentona era associada à tentativa comunista
de chegar ao poder” (Trecho
extraído de correspondência minha com o escritor).
Parabélum
foi
lançado, oficialmente, no dia 15 de julho de 1977, no Simwal Arte às 20:30h em
Fortaleza. Outras duas datas também marcaram o lançamento do livro: 24 de
agosto de 1977, às 20h, no Auditório da UVA em Sobral, cidade onde nasceu o
escritor; e o relançamento em 21 de setembro do mesmo ano no Instituto de
Arquitetos do Brasil, noite de autógrafos ao som do show de Lúcio Ricardo
(violão e voz) e Batista Sena (flauta).
Em
2009, Parabélum foi reeditado pela editora Armazém da Cultura, em Fortaleza,
contendo a última frase “não editou o AI-5”, que havia sido cortada na primeira
edição, devido o risco de ser confiscado pela censura.