domingo, 18 de abril de 2021

A cultura cearense em luto


Gilmar de Carvalho, jornalista, pesquisador e professor aposentado do curso de comunicação da UFC, nos deixou na noite do último sábado, em decorrência da covid-19.
Uma vida dedicada ao amor pela cultura popular, ao cordel, ao jornalismo e à literatura.
Todos nós aprendemos muito com ele. O seu legado é imenso.
Grande jornalista e pesquisador, orientou inúmeros pesquisadores. Escreveu peças de teatro, contos, livros de ensaios sobre cultura popular, sobre cordel, sobre música, valorizando sempre as dinâmicas das tradições culturais.
Ativo e incansável, lutando sempre para registrar e valorizar variadas expressões culturais do nosso povo.
E como romancista, nos legou Parabélum (1977), um dos maiores romances cearenses do século XX.
Fica registrada nessa postagem, alguns momentos da homenagem que ocorreu em virtude dos 40 anos de publicação do romance Parabélum, organizado pelo Acervo do Escritor Cearense, da Biblioteca de Ciências Humanas da UFC, e do Projeto Entre-lugar na Literatura Cearense, em 17 de novembro de 2017. Nesse dia, houve palestras e uma mostra de documentos do Arquivo Pessoal de Gilmar de Carvalho, com curadoria da pesquisadora Lídia Barroso. O Evento ocorreu na Biblioteca de Ciências Humanas da UFC.
E também outras fotos de 2018 ocorreram durante o evento sobre Clarice Lispector.
O legado de Gilmar de Carvalho para a cultura e a literatura cearense é vastíssimo.
É um exemplo para que nós possamos continuar a cultivar as nossas tradições.
Cultura é movimento, é continuidade.
Viva Gilmar de Carvalho.






quinta-feira, 8 de abril de 2021

Ideia de Poesia por Alfredo Bosi


 “A poesia tem mais de um horizonte [...] é o caminho mais feliz da poesia, não só para quem a produz — o artista que conhece aquele momento de iluminação — como sobretudo para os seus leitores. Um adolescente numa crise existencial de repente abre um livro de poemas da Cecília Meireles e sente que há coisas belas na existência. Ou então abre um Carlos Drummond de Andrade e tem contato com uma concepção mais irônica ou crítica, ou mesmo de grande resistência moral. [...]

Quando escrevi O ser e o tempo da poesia (1977), destinei um capítulo inteiro ao conceito de poesia resistência e verifiquei que há mais de uma forma de resistência. A forma mais evidente é a poesia de crítica social, de ataque, de sátira. Mas não é a única. Às vezes o poeta entra muito dentro de si mesmo e sua forte carga subjetiva involuntariamente se opõe àquilo que é a prosa do mundo, a prosa ideológica. Não que ele faça uma proposta formal de ataque à sociedade, mas a sua linguagem é tão estranha e tão diferenciada em relação àquilo que é a linguagem ideologizada, ou a do senso comum, que ela se transforma em resistência.”
Fonte: Entrevista com Alfredo Bosi – “Poesia como resistência à ideologia dominante”, Revista ADUSP, dez. 2015.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

Adolfo Caminha por Sânzio de Azevedo

 


Breve biografia de Adolfo Caminha por Sânzio de Azevedo:

Nascido no Aracati, em 29 de maio de 1867, e tendo falecido no Rio de Janeiro, no primeiro dia do ano ·de 1897, com menos de 30 anos de idade, Adolfo Caminha foi durante sua breve existência o que foi no melhor de sua obra de escritor: um revoltado. Espírito profundamente inquieto e temperamento extremamente impulsivo, era aluno da Escola Naval, no Rio, quando, na presença do Imperador, não hesitou em fazer a apologia do regime republicano, por ocasião de uma homenagem póstuma a Vítor Hugo. Já oficial de Marinha, publica um conto em que faz questão de descrever a desumanidade dos castigos corporais, em voga nos navios de guerra, àquela época. Voltaria ao assunto, com a mesma veemência, num livro de viagem, No País dos Ianques (1894) e no romance Bom-Crioulo (1895). Transferido para o Ceará, um escândalo amoroso fê-lo malvisto na pequena Fortaleza da década de oitenta. Intimado a abandonar a Província, por ordem de seus superiores, o que termina abandonando é a carreira das armas, indo ocupar um modesto cargo de funcionário civil na Tesouraria ·da Fazenda. Na Capital do País, para onde logo se muda, haveria de publicar A Normalista (1893), seu mais famoso romance, onde, como num desabafo, põe à mostra todas as baixezas e podridões da sociedade que o repudiou, chegando mesmo a fazer a caricatura de alguns figurões com os quais se desaviera. Tentaria também vingar-se da corporação a que pertencera, através das páginas do Bom-Crioulo, uma triste história de marinheiros, na qual se conta um caso de homossexualismo, e onde, como foi dito, reaparece o tema dos castigos corporais, como se a vida da Marinha fosse apenas esse lado negro, a que seu grande talento empresta cores ainda mais sombrias.

Sânzio de Azevedo, em "Falas Acadêmicas", Academia Cearense de letras.