Há 129 anos, em 30 de maio de 1892, surgia a Padaria Espiritual, o acontecimento literário que agitou culturalmente Fortaleza, na passagem do século XIX para o XX. A agremiação se formou nas cadeiras do Café Java, quiosque estilo art nouveau que ficava na Praça do Ferreira (centro da cidade), de propriedade de Mané Cocô, que concentrava jovens boêmios, artistas e literatos que debatiam as novidades literárias da época.
A cidade de Fortaleza do final do século XIX e início do século XX foi um espaço de riquíssima efervescência cultural e política. O fator gerador dessa agitação foi o rápido desenvolvimento econômico da capital cearense, em virtude da exportação de algodão para a Inglaterra, durante as décadas de 1860-1870. Ocorreu um amplo desenvolvimento material na capital, que poucos anos antes era apenas uma cidade provinciana, cujo centro econômico passou a ser a Praça do Ferreira.
Devido ao desejo dos jovens letrados e bacharéis de se modernizar e de se atualizar com as novidades intelectuais e artísticas, houve uma intensa e difícil procura por livros, que eram comprados, emprestados, lidos e discutidos nas ruas, praças, cafés, livrarias, gabinetes de leituras, clubes e agremiações literárias.
O fundador e animador dessa padaria singular foi Antonio Sales, jovem poeta de 24 anos (autor do livro "Versos diversos", 1890), foi instigado pelos gracejos de seus amigos Lopes Filho, Ulisses Bezerra, Sabino Batista, Álvaro Martins, Temístocles Machado, Tibúrcio de Freitas, nas festivas reuniões no Café Java, no fim de maio de 1892.
Os jovens escritores queriam criar um grêmio literário para despertar o gosto pelas letras em Fortaleza, mas Antônio Sales não queria criar uma instituição séria e formal, como tantas outras que existiam. Ele concordaria em organizar o grupo "só se fosse uma cousa nova, original e mesmo um tanto escandalosa", que sacudisse a cidade e "tivesse uma repercussão lá fora".